Cirurgião ortopedista esclarece dúvidas sobre LER/DORT
- Publicado: Segunda, 15 Outubro 2007
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Fotos: Ascom_TRT20 |
O que é LER/DORT?
Sergio Nicoletti: LER e DORT são coisas diferentes. LER significa Lesão por Esforço Repetitivo, que, do ponto de vista médico, quer dizer que a pessoa tem um machucado no corpo. O princípio básico é esse.
DORT significa Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho. A diferença do distúrbio para a lesão é que a pessoa não tem um machucado. Daí a confusão que o nome LER/DORT causa.
Hoje em dia sabemos que, nos ambientes de trabalho normais, as pessoas, de maneira geral, não têm LER, mas muitas delas têm DORT.
Quais são os sintomas mais freqüentes das LER/DORT?
S.N.: O indicador principal de uma lesão é a queixa de dor em um único lugar do corpo. Sendo assim, quando se trata das Lesões por Esforço Repetitivo (LER), a dor localiza-se no machucado. Mas é evidente que isso não basta para saber se existe uma lesão. Há uma série de procedimentos médicos para diagnosticar se aquela dor localizada é decorrente de uma lesão.
Como os Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) não têm relação direta com o machucado, os sintomas podem aparecer em qualquer lugar do corpo. Essa é outra diferença que o médico usa.
Como se faz para evitar as LER/DORT?
S.N.: Para evitar as LER deve-se considerar não só o tipo de atividade que o trabalhador desempenha, mas também a sua idade.
Tentar se proteger dos DORT é um pouco mais complicado. Precisa-se entender que, para o ser humano, a sensação de bem-estar depende de sua adaptação ao meio. A organização pode ajudar nesse processo ao criar condições para diminuir as cargas de trabalho que facilitam o aparecimento dos distúrbios. Pode, por exemplo, desenvolver programas de ginástica laboral, de controle de sedentarismo e obesidade. Mas o trabalhador precisa assumir a parte dele nesse processo de prevenção. Fumar em excesso, assim como o estresse no trabalho e na vida pessoal, tende a produzir dor, principalmente músculo-esquelética.
Como é o tratamento das LER/DORT? Tem cura?
S.N.: As LER, que pressupõem um machucado, têm cura. Mas primeiro precisa-se saber qual é a causa.
Com relação aos DORT fica mais complicado, pois sequer caracteriza-se como doença. É uma situação de descompasso entre a capacidade de enfrentar os problemas e a demanda dessa que essa situação exige. Não existe cura porque não estou lidando com um machucado. Estou lidando com uma pessoa que não funciona bem naquele ambiente. Não por culpa dela, mas a conjugação entre essa pessoa e o ambiente não permite que ela consiga viver bem. As duas partes são responsáveis. Quando analisamos sob essa ótica ficamos surpresos, porque muitas vezes o problema dos distúrbios não está naquilo que imaginamos ser a causa. Não é a digitação, no peso que a pessoa carrega, no número de horas trabalhadas, e sim nas situações que causam problemas para o trabalhador. Por exemplo, um chefe muito exigente, a organização com que o trabalho é feito.
Como a LER/DORT deve ser vista na Justiça do Trabalho?
S.N.: Quando saímos da área médica e vamos para a jurídica os contextos mudam. Enquanto médico, estou preocupado em melhorar a condição de vida do meu paciente. Na justiça, o contexto é o de defesa de direitos. Quem tem direito a um benefício na previdência social, por exemplo? Existe critérios que devem ser obedecidos para garantir que os direitos sejam atendidos. Enquanto médico perito, aponto para o juiz se a pessoa tem LER ou DORT e se existe alguma relação com o trabalho desempenhado. Quando essa relação não é direta, eu tenho dúvidas e escrevo para o juiz mostrando possibilidades. O meu papel é o de tentar explicar da maneira mais clara possível, do ponto de vista médico, quais são as implicações de ele decidir que a previdência social pague o benefício ou não.